13 novembro 2007

Mensalão da Imprensa em Mato Grosso do Sul - Nota do Sindjor-MS


O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (SINDJOR/MS), na qualidade de representante da categoria no estado, vem a público manifestar seu posicionamento a respeito dos recentes acontecimentos veiculados por alguns meios de comunicação locais, no que se refere ao suposto esquema de desvio de verbas públicas para instituições, empresas e pessoas ligadas ao segmento da mídia durante o governo do então chefe do executivo José Orcírio dos Santos. O episódio está sendo tristemente denominado de "mensalão da imprensa" e é alvo de oportuna investigação do Ministério Público Estadual (MPE).

Independente dos resultados conclusivos do trabalho desenvolvido pelo MPE, lamentavelmente tal episódio já pode ser classificado como uma mácula na história midiática regional, uma lamentável mancha na trajetória deste estado tão jovem e agora possuidor deste trauma profundo. A despeito dos profissionais sérios que atuam nos diversos segmentos da comunicação social, que buscam exercer suas tarefas diuturnas com dignidade, os fatos apresentados demonstram a fragilidade de um modus operandi construído à base de relações fundamentadas na ganância desenfreada e na certeza da impunidade e da omissão dos órgãos investigativos. Como seqüelas, a auto-estima dos jornalistas que sustentam seu ofício sobre o alicerce da ética é letalmente combalida, deixando-os perplexos e impotentes diante de um quadro aparentemente tão deplorável. Há de se mencionar também o golpe que isso representa na luta pelo fortalecimento da classe, pois em vários dos postos de trabalho portadores destas suspeitas, atuam repórteres, editores, redatores, repórteres fotográficos e cinematográficos, diagramadores e ilustradores, batalhadores do dia-a-dia e vítimas de uma falsa liberdade de imprensa, obtida a custo justamente destas ligações perigosas.

No entanto, o SINDJOR/MS vislumbra nesta crise generalizada, há muito tempo anunciada pela entidade em vários encontros e palestras, uma oportunidade para se repensar velhos paradigmas, reavaliar valores e práticas cristalizadas na imprensa local. É a chance para se iniciar um processo de depuração do chamado mercado de trabalho, meta e sustentáculo de acadêmicos e profissionais de jornalismo. Trata-se de uma abertura que pode ser utilizada para a gênese de uma grande reviravolta moral. Para isso, entretanto, é imprescindível que jornalistas, estudantes e sindicato se aglutinem em torno da salvação imediata da nossa atividade, que, pelas mais diversas razões, escolhemos para nossas vidas. O SINDJOR/MS convoca os jornalistas profissionais deste vasto Mato Grosso do Sul a se rebelarem contra o atual estágio em que se encontram as relações entre empresas de comunicação e poder público, e ajudarem a reconstruir os pilares do jornalismo praticado sobre um solo pavimentado pelo respeito. Este sindicato tem a certeza que tal mudança de atitude vai render dividendos a todos: profissionais, faculdades, empresas e, principalmente, a sociedade.

Sobre as investigações em curso, o SINDJOR/MS declara seu apoio ao trabalho do Ministério Público Estadual. Caso as suspeitas que recaem sobre as pessoas citadas na lista divulgada nesta semana se confirmem, que os responsáveis sejam punidos devidamente, sejam eles empresários, publicitários, jornalistas, seja quem for, doendo a quem doer. Que os órgãos legislativos não percam a oportunidade de instalar comissões de inquérito para apurar essas denúncias em uma esfera política. Vale lembrar que alguns nomes mencionados que figuram como "jornalista", na realidade, não passam de pessoas que atuam de forma irregular, sem portar registro legal e, provavelmente, se passam por jornalistas para receberem as propinas, ou que possuem registros "precários", mantidos somente em função de um entendimento equivocado de um ministro do STF. Que tal acinte à nossa imprensa também seja observado nas averiguações. Enfim, que se restaure a responsabilidade nas redações, assessorias e demais postos de trabalho dos jornalistas. Caso contrário, a lama em que se encontra o tão idolatrado mercado de trabalho será a sentença mortal para uma profissão que, entre outras atribuições básicas, guarda como papel primordial a vigilância sobre o poder público e a observância sobre as anomalias que pairam sobre nossa humanidade.

Este sindicato coloca-se a inteira disposição para auxiliar no que for preciso para que o escândalo do "mensalão da imprensa" seja solucionado. O Conselho de Ética da entidade está de prontidão para que a sociedade reclame daqueles jornalistas que realmente desonram a atividade com atitudes descabidas que em nada coincidem com o verdadeiro exercício da imprensa, imperativo na maior parte do nosso sistema midiático, mas que se vê contundida por suspeitas e fatos tão torpes e condenáveis de uma minoria que insiste em se corromper.

Campo Grande, 13 de novembro de 2007

SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS DE MATO GROSSO DO SUL

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