30 agosto 2005

Imprensa colabora com a pizza das CPI's

O processo em curso nas Comissões Parlamentares de Inquérito realizada no Congresso Nacional, sejam as CPI’s mistas (CPMI) – deputados e senadores – ou formadas exclusivamente por deputados ou senadores, apresentam informações sob, pelo menos, dois aspectos. O primeiro e também o principal se trata das informações que os parlamentares, no processo de investigação, questionamentos e apuração diante dos depoentes, produzem e que enriquecem a população brasileira no que diz respeito ao conhecimento dos mecanismos de corrupção e da identificação dos possíveis envolvidos nesse crime. Esse lado do trabalho da imprensa é o mais conhecido e é o que mais a população visualiza e percebe. No entanto existe o “outro” lado não tão claro assim, mas não menos importante. As sessões das CPI’s se tornaram um palco onde dezenas de atores se revezam em performances dignas dos melhores atores de Hollywood. Comentário em sala de aula recentemente sobre a cobertura da imprensa nas CPI’s enfatizou o trabalho incessante dos assessores de imprensa ou comunicação no trabalho de confecção dos releases eletrônicos. Deputados e Senadores se acotovelam para aparecer mais e melhor na frente das câmeras. O fato chega ao ridículo quando alguns políticos solicitaram intervenção para dizer que esqueceu o que ia perguntar ou então, como aconteceu recentemente com uma senadora sulista, fazer a mesma pergunta realizada anteriormente há alguns minutos, cena acompanhada por milhões de pessoas, pois uma rede de televisão veiculou o episódio de forma capciosa. Não obstante ao objetivo pouco ética da emissora, o fato é que há uma nova novela no ar. Parece que os maquiadores de plantão no Congresso estão com as agendas lotadas. Sim, pois cada “ator” deseja aparecer com visual impecável. E o que deveria ser uma sessão séria, uma investigação para apurar a corrupção e os crimes eleitorais, se torna um espetáculo. E pior, um espetáculo em que será distribuído no final uma grande rodada de pizza para a platéia. Do lado da imprensa, o denuncismo, a espetacularização da notícia agrava o enredo. A imprensa se delicia com os novos “galãs” de plantão. Esse comportamento não contribui para o esclarecimento público, para o legítimo e ético papel de produção e distribuição da informação, um bem público. A imprensa contribui para distorcer as informações. Não atua de forma objetiva. Há um processo crucial para a democracia no país e uma irresponsabilidade dos parlamentares e da imprensa na execução desse processo.

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