05 novembro 2005

A insensatez de um governo desequilibrado

O resultado do Referendo foi mais uma das muitas atrapalhadas do governo atual. Cercado de fatos que mais atrapalham a normalidade democrática do que ajudam na manutenção de uma economia estável e de uma política consistente. O resultado das urnas no último domingo não representa a vontade popular cansada de tanta violência. Os fatos do cotidiano fazem refém a população que está na mão dos bandidos. É uma violência generalizada desde os pequenos roubos do supermercado, da padaria da esquina, passa pelos assaltos, roubos de carro e chega aos roubos milionários comandados pelos políticos corruptos. Mas numa república de bananas ladrão de galinha vai para a cadeia, ladrão da economia nacional faz festa de aniversário para centenas de convidados em sua chácara no interior do país.

E muito pior que o resultado do Referendo, onde, verdadeiramente, a população deu um recado aos políticos e ao governo federal, é o próprio Referendo. Num país carente de escolas, hospitais, onde professores universitários estão parados há mais de 60 dias sem qualquer sinal do governo para resolver a situação, onde o ministro da Educação diz que não há como melhorar a educação se os professores recebem salários de fome, mas não passa de discurso, pois as verbas estão destinadas ao caixa 2; a despesa para organizar e realizar o Referendo chegou a quase 1 milhão de reais, dinheiro suficiente para equipar muitas escolas e hospitais. O Congresso Nacional decide, nos conluios ou no voto, matérias muito mais importantes que o que foi decidido pelo Referendo, não há justificativa para essa gastança. O fato apenas demonstra o desequilíbrio de um governo desgastado e inócuo, que para demonstrar seu compromisso com a democracia leva milhões de brasileiros às urnas. E um fato que deveria ser tratado de forma mais coerente, de forma mais séria, é decidido a partir de um desgaste político do governo federal e impõe, portanto, uma decisão que não corresponde aos anseios da população, ou seja, acabar com a escalada exacerbada da violência, acabar com a insegurança em que vive cada brasileiro.

A mídia de maneira geral não apresenta claramente o caos em que vive o país, até mesmo para não criar convulsão social. No entanto, a institucionalização da violência, os altos índices de desemprego, a miséria que assola cada dia mais a população de um lado e de outro o gasto desenfreado da classe política, seja representada pelo congresso, seja representada pelo palácio do Planalto, em que se falam em milhões de reais com uma naturalidade absurda, diante de uma população miserável que sobrevive com R$ 300,00 por mês. Muitos condenaram o SIM, muitos condenaram o NÃO, mas poucos avaliaram a desfaçatez de um plebiscito sem propósito e de orçamento milionário. E a uma mídia que mostra a população “exercendo seu papel de cidadão”. É cômico verificar o trabalho de produção, produção mesmo, das emissoras de TV e assistir as reportagens em que se mostram senhoras idosas, pessoas simples “orgulhosas por exercerem sua cidadania por meio do voto”.

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